Jornalismo online: a distância entre o furo e a barriga

por Fabi Lins 1.063 views0

Toda unanimidade é burra (Nelson Rodrigues)

A perspectiva de gerar notícias em tempo real tem sido a principal contribuição da Internet ao Jornalismo. Sem dúvida, é vantagem poder divulgar um acontecimento em primeira mão, ou “dar um furo” segundo a gíria jornalística. Prova disso é a febre de “últimas notícias” que faz até aqueles que torcem o nariz para a rede de computadores, perderem cinco minutos do seu tempo para lê-las. Mas nem tudo são flores nesse mar de sites: ás vezes, o furo pode virar “barriga” e sair na frente torna-se desvantagem.

Preza a cartilha do jornalista, que toda notícia deve ser apurada com a devida cautela e todas as partes envolvidas no fato devem ser consultadas antes de mais nada. E isso é fácil de entender. Se não fosse assim, a notícia perderia a credibilidade e estaria mais para a fofoca. Mesmo assim, os erros jornalísticos – ou barrigas – acontecem em toda a mídia e com maior freqüência do que o desejado nas redações. Jornal impresso, revista, rádio e TV têm a sua vez de “falha nossa”, com erros menos ou mais graves ( como o famoso caso da Escola Base em São Paulo, o qual pessoas foram indevidamente acusadas de abusos sexuais contra crianças em 1994). Enfim, todos já pecaram na apuração dos fatos.

Na Internet, a distância entre o “furo” e a “barriga” é menor ainda e o jornalista deve ter o dobro de cuidado. Não raro, a personalidade é morta quando ainda viva, o esportista perde quando ganha e assim por diante. Ás vezes, a notícia equivocada é retirada com a mesma velocidade que entrou na rede, mas até aí, internautas de todos os cantos já leram aquilo. E isso não é uma atribuição exclusiva de portais pequenos: os grandes também erram.

Certo dia, Gustavo Kuerten jogava partida decisiva do campeonato Master Series e grande parte da Internet estava cobrindo o jogo on line. Guga estava perdendo e na ansiedade de dar a notícia primeiro, muitos jornalistas redigiam dois finais para o tenista. Num ele ganhava e logicamente, noutro ele perdia. Na época, eu estava acompanhando a final e confesso que fiz o mesmo. Felizmente, Guga reverteu o placar com sua genialidade e ganhou o campeonato. Daí, foi preciso somente colocar na rede o texto em que ele ganhava. Mas, um determinado portal, reconhecido pelo seu tamanho e qualidade, enviou o texto em que Kuerten perdia. Um apertar de teclas equivocado e o gigante balançou. Minutos depois, a notícia correta foi sobreposta. Agora, e o internauta que não atualizou a tela do seu computador? Até hoje acha que o Guga perdeu o jogo…

Rosália do Vale .::. [email protected]
Rosália do Vale é jornalista e redatora publicitária. Saiba mais do seu trabalho através do site http://rosaliadovale.wordpress.com