O poder transformador da informação livre

por Fabi Lins 974 views0

Conhecimento gera conhecimento. Conhecimento é perigoso, porque faz sempre surgir algo novo. A humanidade sempre teve medo do novo. Apesar de ser um clichê, é uma afirmação da qual não ouso duvidar. O grande problema do novo é seu poder de transformar, e é esse o ponto da velha discussão sobre liberdade de expressão e da informação livre. Sempre que algo realmente novo – e portanto transformador – surge, é praxe que aqueles que detém o mando das coisas (as velhas coisas de sempre) tentem controlar o novo e aplacar a ira do seu alcance.

Vivemos uma era controversa. Conglomerados gigantes detém corporações de mídia, de entretenimento e de informação. Num mundo onde a informação se tornou a moeda circulante mais poderosa, mais do que o petróleo, mais do que o poderio militar, mais do que o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU; deter a informação é deter o poder máximo. É possível manipular, mentir, deturpar massas humanas incalculáveis e fazê-las odiar algo que nunca viram, com o que jamais antes tiveram contato e que passaria impunemente ignorado por toda a vida, a menos que fosse “informado”.

É esse poder novo e transformador de informar que faz da internet – que tentam minimizar como a “rede mundial de computadores” – uma ferramenta de inovação sem precedentes. Sem precedentes porque para transmitir um sinal de rádio ou TV é preciso muito dinheiro, para imprimir um jornal também, mas para exibir um site na internet basta querer. Claro, é preciso ser alfabetizado, ter alguma intimidade com a informática e um tanto de paciência, além de um computador e uma forma de acessar à web. Mas vamos pensar que tudo isso já existe.

Navegar é preciso, e muito

O princípio da informação livre é levar ao conhecimento. Quanto mais informações estiverem disponíveis, maiores serão as probabilidades de que se cruzem e gerem conhecimento. Um sujeito isolado encontra outro, juntando suas informações chegam a conclusões, e a humanidade simbolicamente dá mais um passo. Para que se encontrem, precisam navegar, e muito.

Informação livre propicia um ambiente criativo, este sangue que circula na internet e a mantém viva, pulsante. Foi assim que surgiu o Linux, o maior exemplo de uma nova forma de produção coletiva, que abre mão da remuneração direta em busca de um retorno infinitamente superior, tanto pessoalmente quanto coletivamente.

Pensando no todo é que se chega a uma melhor condição individual. É esta mentalidade que faz dos orientais, notadamente os japoneses, uma nação próspera. Sei que é um exemplo simplório e redutivista, mas qual não é? O que importa é que é real.

Para recorrer a outro exemplo em moda, esta nova forma de produção é a essência do Equilíbrio de John Nash, o matemático retratado no filme “Uma Mente Brilhante”. Se todos os rapazes da mesa paquerassem a mesma garota, todos fracassariam. Se ao contrário, cada um deles só paquerar uma garota, todos eles teriam companhia, assim como elas. Todos saem ganhando, e ninguém perde. Superficialmente, o exemplo do filme resume a teoria de Nash e ainda ajuda a demonstrar porque é importante ver informação livre e gratuita circulando por servidores mundo afora.

Quanto mais se navega, mais se aprende, mais se pode gerar conhecimento e formar cabeças pensantes, essas mesmas que andam faltando pelo mundo.

O bem comum acima do individual

Uma nova forma de produção, um novo conceito de ganho, diferente da produção remunerada direta, mostrando que é possível viver fora dos domínios monopolistas da informática mundial. Naturalmente, o conceito é válido para todas as áreas, desde a ciência até a filatelia.

O conceito capitalista de posse intelectual de determinado conhecimento é superável, dando forma ao compartilhamento, à vida em comunidade, sem no entanto menosprezar os méritos do criador. Linus Tovards é mundialmente reconhecido, e seu Linux é de domínio público.

Não se trata da negação simples e inconsequente do direito autoral, mas sim a desvinculação do direito patrimonial. A patente pode ser renegada frente ao crescimento do todo. Certamente, para os nossos dias, uma visão utópica. Mas não inviável.

Agora, sendo a informação livre, o que ganham as corporações? O que a mídia lucra abrindo mão do lucro gerado pela informação trasmitida? E pior: como manipular quando há mentes inteligentes buscando o porquê além do que?

A internet mostra seu poder transformador ao questionar meios de produção, ao permitir a exploração livre e gratuita de todo o conhecimento já gerado. Um poder de alcance global, que ao mesmo tempo serve para informar e formar, basta que haja receptividade. Havendo, a bola de neve crescerá ladeira abaixo, para desgosto dos corporativistas.

Mais do que internautas, a internet é feita de pessoas. Vamos alimentar suas massas cinzentas e deixá-los alimentar as nossas. De graça, sem dúvida.

Rafael Rez Oliveira Arquiteto de Informação, é responsável pelo marketing da Interactis. Mantém o Blog: Ex Vertebrum.